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Reino Unido desafia Israel e diz que reconhecimento da Palestina não é “prêmio ao Hamas”

Premiê britânico pressiona por solução de dois Estados e denuncia a catástrofe humanitária em Gaza; Netanyahu e Trump reagem com críticas duras.

O Reino Unido decidiu romper o silêncio diplomático que vinha marcando as grandes potências ocidentais diante da guerra entre Israel e Hamas. O premiê britânico, Keir Starmer, anunciou que o país está pronto para reconhecer oficialmente o Estado palestino até setembro e deixou claro que isso não depende mais apenas de uma negociação direta com Israel.

A posição provocou reações imediatas, mas também expôs uma mudança no tabuleiro diplomático global: grandes países começam a sinalizar que não vão mais esperar indefinidamente pela retomada de um processo de paz estagnado.

Pressão britânica por medidas concretas de Israel

A decisão de Londres está condicionada a três exigências mínimas: que Israel aumente a entrada de ajuda humanitária em Gaza, se comprometa publicamente a não anexar a Cisjordânia e dê sinais claros de que aceita discutir a criação de um Estado palestino soberano.

Caso contrário, o Reino Unido tomará a iniciativa na Assembleia Geral da ONU em setembro — uma sinalização forte, que pretende empurrar outros países ocidentais para a mesma direção.

“O que está em jogo aqui é o futuro de milhares de crianças palestinas que estão morrendo de fome. Isso não é uma recompensa para o Hamas, é um gesto de dignidade humana”, afirmou a ministra britânica dos Transportes, Heidi Alexander, ao rebater as críticas de Israel.

Israel e Trump reagem com indignação

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu classificou a proposta como uma afronta e acusou o Reino Unido de “punir as vítimas dos ataques terroristas de 2023”, em referência ao ataque do Hamas que deu início ao conflito atual.

O ex-presidente americano Donald Trump também condenou a iniciativa. “Não se deve recompensar o Hamas com reconhecimento estatal”, afirmou.

O governo israelense sustenta que qualquer avanço em direção à independência palestina só pode ocorrer após o desmantelamento completo do Hamas e sob garantias de segurança para o Estado de Israel.

França lidera movimento europeu; Brasil mantém cautela

A França já havia se antecipado ao anunciar, na semana passada, que também deve reconhecer o Estado palestino em setembro. O presidente Emmanuel Macron classificou a situação em Gaza como “moralmente insustentável” e defendeu que a comunidade internacional precisa agir antes que seja tarde demais.

A Espanha, Noruega, Irlanda e Eslovênia também já anunciaram o reconhecimento formal da Palestina como Estado soberano em 2024, criando uma onda diplomática que pressiona potências como Alemanha, Canadá e até os Estados Unidos.

O Brasil, embora defenda historicamente a solução de dois Estados, ainda adota um tom mais cauteloso. O presidente Lula tem criticado duramente as ações militares israelenses em Gaza, mas evita dar prazos para o reconhecimento oficial da Palestina, temendo romper completamente o canal diplomático com Tel Aviv.

O que muda com o reconhecimento?

O reconhecimento de um Estado palestino por potências ocidentais não tem impacto imediato em termos de soberania territorial, mas reforça politicamente a legitimidade do povo palestino no cenário internacional. Isso pode gerar novas alianças diplomáticas, maior acesso a instituições multilaterais e até acelerar processos judiciais contra crimes de guerra.

Segundo uma autoridade do governo britânico, a medida tem peso simbólico e prático, e visa isolar grupos extremistas como o Hamas, valorizando setores da liderança palestina dispostos a negociar.

“Precisamos mostrar ao povo palestino que há esperança além da guerra. O reconhecimento é o primeiro passo para isso”, afirmou a ministra Heidi Alexander.

Texto: Daniela Castelo Branco

Foto: Divulgação/Reuters

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