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“Se puder ficar à vontade, vão ser horas”, diz Bolsonaro antes de depor no STF


Ex-presidente promete longa fala e nega golpe enquanto STF avança nos interrogatórios do inquérito sobre tentativa de ruptura institucional após as eleições de 2022

Nesta terça-feira (10), o ex-presidente Jair Bolsonaro chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF) prometendo um depoimento que deve durar horas. Em conversa descontraída com jornalistas no plenário da Corte, antes do início da sessão, Bolsonaro afirmou que, se tiver liberdade para falar, “se preparem, vai ser horas”. O ex-presidente enfrenta interrogatório na Primeira Turma do STF, como réu na ação que investiga um suposto planejamento para uma tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.

A defesa de Bolsonaro já prepara uma estratégia que inclui a reprodução de vídeos com críticas de autoridades de esquerda às urnas eletrônicas, entre elas discursos do ministro do STF Flávio Dino e do ex-ministro Carlos Lupi, que questionam a segurança do sistema eletrônico de votação. “São 11 ou 12 vídeos curtinhos que têm a ver com o processo. Tem ato meu, pronunciamento meu. Tem um do Flávio Dino condenando a urna eletrônica. Carlos Lupi também falando que sem a impressão do voto é fraude”, explicou o ex-presidente, que voltou a defender a implementação do voto impresso no Brasil, modelo adotado na Venezuela e no Paraguai.

Bolsonaro reafirmou sua visão de que apenas com o voto impresso foi possível identificar a fraude nas eleições presidenciais que deram vitória a Nicolás Maduro na Venezuela; uma alegação contestada por observadores internacionais, que apontam que os principais indícios de fraude no país vieram das atas de votação apresentadas pela oposição e não pelo sistema de votação.

Ao chegar ao STF para depor, Bolsonaro também rebateu as acusações da Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre uma possível decretação de Estado de Sítio no país. “Antes de porventura assinar alguma coisa sobre o decreto de Estado de Sítio, tem que convocar os conselhos, e o decreto, para ser assinado, o parlamento tem que dar o ok”, ressaltou.

O depoimento de Bolsonaro é o segundo dia de uma série de interrogatórios que a Primeira Turma do STF abriu para ouvir os oito réus do inquérito que apura a suposta tentativa de golpe após as eleições. Na segunda-feira (9), foram ouvidos o ex-ajudante de ordens da Presidência, tenente-coronel Mauro Cid, que detalhou sua colaboração premiada em quase quatro horas de depoimento, e o ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, que negou qualquer investigação sobre fraudes nas urnas durante sua gestão.

Ainda na segunda, Cid revelou ao ministro Alexandre de Moraes detalhes que reforçam as suspeitas de envolvimento de autoridades militares, como o incômodo do então comandante do Exército, general Freire Gomes, diante da postura do ex-comandante da Marinha, Almir Garnier, que teria colocado tropas à disposição de Bolsonaro, gerando tensão interna nas Forças Armadas.

Entre os réus já ouvidos nesta semana estão também o ex-comandante da Marinha Almir Garnier, o ex-ministro da Justiça Anderson Torres e o ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno: que exerceu seu direito constitucional de permanecer em silêncio em parte do interrogatório.

Além de Bolsonaro, a agenda dos próximos dias prevê depoimentos dos ex-ministros da Defesa Paulo Sérgio Nogueira e Walter Braga Netto, que foi candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro em 2022.

Com o tom firme e atento do ministro Alexandre de Moraes na condução das sessões, que mescla rigor com momentos de cordialidade, o STF avança na tentativa de esclarecer os fatos que cercam um dos capítulos mais tensos da recente história política do país.

Texto: Daniela Castelo Branco

Foto: Divulgação

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