Comitiva de senadores desembarca em Washington em meio a recesso do Congresso americano; governo busca diálogo, mas Trump resiste a negociações.
O Brasil inicia a última semana de julho diante de uma crise diplomática sem precedentes com os Estados Unidos. O governo norte-americano, sob comando de Donald Trump, avalia aplicar sanções contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) com base na Lei Magnitsky, incluindo o cancelamento de vistos, e prepara a imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, já a partir da próxima sexta-feira (1º).
A justificativa da Casa Branca seria a alegada “perseguição judicial” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a suposta censura a redes sociais americanas no Brasil. Na prática, o impacto recairia diretamente sobre setores-chave da economia brasileira, como o agronegócio (carne, frutas, suco de laranja), a indústria aeronáutica (Embraer), produtos químicos, açúcar e madeira.
Diante da gravidade do cenário, uma comitiva de oito senadores brasileiros desembarcou neste fim de semana em Washington. Já estão na capital americana os parlamentares Nelsinho Trad (PSD-MS), Tereza Cristina (PP-MS), Marcos Pontes (PL-SP), Esperidião Amin (PP-SC), Fernando Farias (MDB-AL) e Carlos Viana (Podemos-MG). Eles permanecem nos Estados Unidos até quarta-feira (30) para reuniões com a embaixadora brasileira, empresários, membros da Câmara de Comércio e congressistas americanos de ambos os partidos.
As primeiras agendas ocorrem nesta segunda-feira (28), começando com uma recepção na residência oficial da embaixadora do Brasil e, logo após, uma reunião com o Brazil-U.S. Business Council. Na terça (29), estão previstos encontros com parlamentares norte-americanos e uma coletiva de imprensa sobre os resultados das conversas.
Apesar dos esforços diplomáticos, o recesso da Câmara dos Representantes nos EUA e o endurecimento da retórica de Trump tornam o cenário incerto. O setor privado brasileiro já projeta perdas bilionárias e medidas emergenciais: como suspensão de embarques, férias coletivas e corte de produção, para evitar prejuízos ainda maiores.
No Palácio do Planalto, a pressão política cresce. Enquanto Lula classifica o tarifaço como “chantagem inaceitável”, governadores aliados de Bolsonaro, como Tarcísio de Freitas (Republicanos), Ronaldo Caiado (União Brasil) e Ratinho Jr. (PSD), pedem mais ação direta do presidente. O União Brasil chegou a cobrar publicamente que Lula telefone para Trump.
O petista, no entanto, resiste: “Trump, o dia que você quiser conversar, o Brasil estará pronto e preparado para mostrar a verdade”, afirmou Lula. Segundo ele, o interlocutor oficial tem sido o vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin: “Todo dia ele liga para alguém, e ninguém quer conversar com ele”, ironizou o presidente.
Enquanto isso, o governo brasileiro desenha planos emergenciais para amparar os setores mais atingidos. A estratégia inclui linhas de crédito, subsídios e possível judicialização internacional: medidas que, segundo especialistas, são paliativas e podem agravar o endividamento público.
No horizonte, dois caminhos ganham força: uma negociação setorial para tentar preservar exportações como suco de laranja, café e aeronaves; ou a extensão do prazo para aplicação das tarifas, hipótese que dependeria de decisão direta de Trump.
A presença da comitiva do Senado em Washington pode ser decisiva para amenizar a crise e sinalizar que o Congresso brasileiro está empenhado na defesa dos interesses nacionais. Mas o tempo corre, e o prazo final para barrar o tarifaço se aproxima rapidamente.
Texto: Daniela Castelo Branco
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