Fase decisiva da ação penal contra Bolsonaro e aliados vai ao ar pela TV Justiça; transmissão divide réus e marca nova etapa da investigação
O Supremo Tribunal Federal (STF) inicia nesta segunda-feira (9) uma nova e delicada etapa do processo que investiga a tentativa de golpe de Estado articulada por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro. Começam hoje os interrogatórios dos réus do chamado “núcleo duro” da trama, com transmissão ao vivo pela TV Justiça: decisão que gerou controvérsia entre as defesas.
Um dos que tentaram barrar a exibição foi o general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice na chapa de Bolsonaro em 2022. A defesa alegou que a veiculação ao vivo “espetaculariza” o processo e pode prejudicar os réus. O pedido, no entanto, foi negado pelo ministro Alexandre de Moraes, relator da ação no STF.
Para Moraes, a defesa não apresentou provas de prejuízo concreto à ampla defesa. Ele ressaltou, contudo, que poderá reavaliar a questão caso novos elementos sejam apresentados.
Apesar das críticas à exposição midiática, parte dos acusados vê na transmissão uma oportunidade de rebater publicamente as acusações. O próprio Bolsonaro, que será ouvido ao longo da semana, convocou apoiadores para assistirem ao seu depoimento e prometeu falar abertamente sobre os fatos de 2022. “Vale a pena assistir. Conto com a audiência de vocês. Não vou lá para lacrar ou desafiar ninguém”, afirmou o ex-presidente em evento do PL Mulher, na última sexta-feira (6).
A agenda dos interrogatórios será intensa. O primeiro a depor, nesta segunda-feira às 14h, é o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e delator premiado no caso. Na sequência, a ordem segue o critério alfabético:
- Alexandre Ramagem (deputado federal e ex-diretor da Abin)
- Almir Garnier (ex-comandante da Marinha)
- Anderson Torres (ex-ministro da Justiça)
- Augusto Heleno (ex-GSI)
- Jair Bolsonaro (ex-presidente da República)
- Paulo Sérgio Nogueira (ex-ministro da Defesa)
- Walter Braga Netto (ex-ministro da Defesa e da Casa Civil)
Todos prestarão depoimento presencialmente no Supremo, com exceção de Braga Netto, que será ouvido por videoconferência da unidade do Exército onde está preso preventivamente desde dezembro.
A Primeira Turma do STF reservou sessões diárias até sexta-feira (13) para concluir os depoimentos. Esta fase é considerada estratégica para o andamento da ação penal, pois coloca os principais acusados frente a frente com os ministros da Corte, sob os olhos atentos da opinião pública.
A transparência, neste caso, se sobrepôs ao incômodo dos réus com a exposição. Como afirmou Moraes, a regra da publicidade é um pilar da Justiça, especialmente em processos com impacto direto na democracia.
Texto: Daniela Castelo Branco
Foto: Divulgação