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Tarifa de Trump atinge principais produtos brasileiros e abala mercado: petróleo, café e aeronaves estão na mira

Medida entra em vigor em 1º de agosto e já provoca queda na Bolsa e alta do dólar; governo Lula promete reação firme e estuda levar caso à OMC.

A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre todos os produtos exportados pelo Brasil já começa a causar impactos concretos na economia brasileira. Os reflexos atingem desde o setor produtivo até os mercados financeiros e envolvem itens de altíssimo peso na balança comercial, como petróleo, café, aeronaves e carne bovina.

A nova alíquota, anunciada oficialmente na última quarta-feira (9) e com vigência prevista para 1º de agosto, afetará diretamente os principais produtos brasileiros embarcados aos EUA em 2025. Entre janeiro e junho, os destaques da pauta de exportação foram:

  1. Petróleo bruto – US$ 2,378 bilhões
  2. Semiacabados de ferro e aço – US$ 1,518 bilhão
  3. Café – US$ 1,172 bilhão
  4. Aeronaves – US$ 876 milhões
  5. Derivados de petróleo – US$ 830 milhões
  6. Sucos de frutas (principalmente laranja) – US$ 743 milhões
  7. Carne bovina – US$ 738 milhões
  8. Ferro fundido – US$ 683 milhões
  9. Celulose – US$ 671 milhões
  10. Máquinas pesadas e equipamentos industriais – US$ 568 milhões

Segundo dados oficiais, os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China. Somente em 2024, as exportações brasileiras para os EUA superaram US$ 40 bilhões, registrando crescimento de 9,2% em relação ao ano anterior. Ainda assim, o saldo comercial foi favorável aos americanos, com superávit superior a US$ 250 milhões: o que torna a justificativa de “desequilíbrio” alegada por Trump ainda mais controversa.

Na carta enviada ao presidente Lula, o mandatário norte-americano diz que a relação comercial com o Brasil é “muito injusta” e que a tarifa de 50% ainda seria “menor do que o necessário para garantir condições de concorrência equitativas”. Trump também politizou o discurso ao defender Jair Bolsonaro, ex-presidente brasileiro e réu no STF por tentativa de golpe de Estado. Ele acusou o Brasil de estar conduzindo uma “caça às bruxas” contra o aliado político.

Mercado reage com cautela e volatilidade

A tensão internacional se refletiu imediatamente no mercado. O Ibovespa abriu em queda e recuava 0,80% na manhã desta quinta-feira (10), alcançando 136.377 pontos. Já o dólar, que havia subido mais de 2% nas primeiras negociações, reduziu o ritmo e operava a R$ 5,60, após ter fechado o dia anterior a R$ 5,503.

Analistas do BTG Pactual avaliam que o impacto mais nocivo da medida não está apenas no aumento do custo das exportações, mas na deterioração da relação entre os dois países e no clima de incerteza que se instala sobre o ambiente econômico.

“A piora do cenário internacional e o atrito diplomático com um dos nossos principais parceiros comerciais geram insegurança. Não é só uma questão tarifária, é uma sinalização política perigosa”, afirma o relatório do banco.

Brasil prepara reação e estuda recorrer à OMC

O governo Lula já avisou que não aceitará passivamente a ofensiva tarifária. Em declarações públicas, o presidente disse que o Brasil é um país soberano com instituições independentes, e que qualquer medida unilateral será respondida com reciprocidade.

Nos bastidores, o Itamaraty e o Ministério da Fazenda trabalham em duas frentes. A primeira é avaliar a viabilidade de recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC), sustentando que a medida norte-americana viola as regras internacionais e carece de base técnica. A carta de Trump, com seu viés político, será usada como prova central na argumentação brasileira.

A segunda frente é preparar eventuais medidas retaliatórias, inclusive com base na Lei de Reciprocidade Econômica, sancionada em abril. No entanto, o governo reconhece que a aplicação de tarifas sobre produtos americanos pode acabar prejudicando a própria indústria nacional, já que boa parte das importações dos EUA são insumos industriais e bens intermediários.

Por ora, o que se vê é um Brasil em alerta máximo, tentando equilibrar firmeza diplomática com cautela econômica. Até 1º de agosto, o prazo final para entrada em vigor da tarifa, os próximos passos; tanto de Brasília quanto de Washington, serão decisivos para o rumo das relações comerciais entre os dois países.

Texto: Daniela Castelo Branco

Foto: Divulgação

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