Em meio a sanções dos EUA, líderes rivais partem para disputa de narrativas no exterior; ambos buscam apoio internacional em agendas opostas.
A crise diplomática e econômica gerada pelo tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra o Brasil, está promovendo um raro ponto de convergência entre os dois principais antagonistas da política nacional: Lula e Bolsonaro iniciaram, simultaneamente, uma ofensiva internacional em defesa de suas agendas políticas.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deu o pontapé inicial na semana passada, ao conceder entrevista à CNN americana. Nesta segunda-feira (21), participa de uma cúpula internacional ao lado dos presidentes do Chile, Espanha, Colômbia e Uruguai, reforçando sua posição de que os EUA estão impondo tarifas injustas que ameaçam a soberania econômica dos países em desenvolvimento.
A estratégia, articulada dentro do Palácio do Planalto, prevê que Lula conceda uma entrevista por semana a veículos internacionais, com o objetivo de sensibilizar a opinião pública global e atrair aliados em sua defesa contra o que considera uma ofensiva protecionista norte-americana.
Já do outro lado, Jair Bolsonaro (PL) aposta em uma narrativa completamente oposta. O ex-presidente, que se alinha politicamente a Trump, pretende usar o cenário internacional para denunciar o que chama de “perseguição jurídica no Brasil”, especialmente após as medidas cautelares impostas pelo STF, que incluem tornozeleira eletrônica e restrições de liberdade.
Na semana passada, Bolsonaro falou à agência Reuters e prepara uma série de entrevistas a outros veículos estrangeiros. O entorno do ex-presidente pretende ainda acionar entidades internacionais e líderes da direita mundial para aumentar a pressão contra o Supremo Tribunal Federal, repetindo a estratégia de 2018, quando Lula, então preso, buscou respaldo global denunciando arbitrariedades judiciais.
O pano de fundo dessa disputa de narrativas é a medida anunciada por Trump, que impôs tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, afetando setores estratégicos como o agronegócio e a indústria de equipamentos.
Se, de um lado, Lula quer mostrar que o Brasil é vítima de uma política comercial agressiva dos EUA, do outro, Bolsonaro tenta transformar a crise em palanque político, se posicionando como vítima do sistema judicial brasileiro e defensor da agenda trumpista.
Com o Brasil no centro de um embate internacional e interno, a guerra de versões entre Lula e Bolsonaro agora ganha palco global. E os próximos capítulos prometem ecoar além das fronteiras.
Texto:; Daniela Castelo Branco
Foto: Divulgação