Linha dura de Trump cede à pressão internacional e acordo prevê pausa de 24 horas nas ofensivas; Israel e Irã ainda não confirmaram oficialmente.
Em um anúncio que surpreendeu a comunidade internacional, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou nesta segunda-feira (23) um cessar-fogo “completo e total” entre Israel e Irã, encerrando o que ele mesmo chamou de “Guerra dos Doze Dias”. A decisão veio poucas horas após um ataque iraniano a uma base americana no Catar, aumentando o temor de uma escalada militar ainda mais perigosa no Oriente Médio.
O acordo, segundo Trump, começa a valer dentro de seis horas. O Irã deverá suspender suas operações militares por 12 horas, seguido por Israel. Ao final de 24 horas, as duas nações devem pôr fim oficial ao conflito. O anúncio foi feito por Trump na rede Truth Social e gerou reações de otimismo cauteloso, mas até o momento nenhum dos dois países envolvidos confirmou oficialmente o cessar-fogo.
Como começou a guerra
O confronto teve início em 12 de junho, com bombardeios israelenses contra instalações nucleares iranianas. Israel justificou os ataques como uma ação preventiva para frear o programa nuclear de Teerã. A resposta iraniana veio com força: mísseis balísticos e ataques contra alvos estratégicos israelenses e, mais recentemente, contra bases militares dos EUA no Catar e no Iraque.
O saldo até agora é trágico. Segundo a Agência de Notícias de Ativistas de Direitos Humanos, pelo menos 639 pessoas morreram no Irã, além de centenas de feridos e danos significativos a infraestruturas nos dois países.
De discurso bélico a apelo pela paz
Nas últimas semanas, Trump manteve um tom agressivo, chegando a exigir a rendição do Irã e o abandono imediato do programa nuclear. No dia 17, subiu o tom ao afirmar que o líder supremo iraniano, aiatolá Ali Khamenei, era um “alvo fácil”. A postura provocou críticas até dentro do próprio Partido Republicano, principalmente da ala isolacionista, representada por nomes como Tucker Carlson e Marjorie Taylor Greene, que cobraram de Trump a promessa de manter os EUA fora de novas guerras.
Mas o cenário mudou após o ataque iraniano à base de Al Udeid, no Catar, nesta segunda-feira. Embora o Irã tenha avisado com antecedência, o que evitou vítimas americanas, o episódio elevou a pressão por uma solução diplomática. Líderes europeus, como a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o presidente francês, Emmanuel Macron, reforçaram apelos por diálogo.
O governo do Catar chamou o ataque de “violação flagrante”, e o Irã, por sua vez, buscou apoio de países da região: como Arábia Saudita e Omã, para pressionar por um cessar-fogo.
Trump celebra, mas mundo permanece em alerta
O cessar-fogo foi descrito por Trump como um “triunfo da coragem e da inteligência americana”, mas especialistas alertam para a fragilidade do acordo. Segundo o jornalista Frank Gardner, da BBC, a desconfiança mútua e a complexidade das questões nucleares devem manter a tensão elevada por muito tempo.
A Casa Branca fez questão de ressaltar o papel de Trump como mediador e agradeceu ao Irã pela suposta “advertência prévia” antes do ataque no Catar. Nas redes sociais, o clima é dividido. Enquanto apoiadores comemoram, críticos apontam a ausência de garantias concretas. Um usuário identificado como @meioindep comentou: “Trump proclama o fim do confronto após o fogo cruzado com o Irã: ‘Parabéns, mundo, chegou a hora da paz!’”, mas muitos duvidam que o acordo se sustente.
Internamente, o episódio também expôs fissuras dentro dos EUA. A ala “America First” do Partido Republicano reforçou as críticas à intervenção militar, lembrando a Trump que seu discurso de campanha era justamente de evitar envolvimento em conflitos externos.
Conflito deixou marcas profundas
No sábado (21), os EUA realizaram um ataque a instalações nucleares iranianas em Fordo, que Trump descreveu como um golpe com “danos monumentais”, mas até agora a ONU não confirmou a extensão dos estragos.
Com o espaço aéreo no Catar temporariamente fechado e com alertas emitidos a cidadãos americanos e britânicos para deixarem a região, o clima permanece de alerta máximo. A ONU já advertiu sobre o risco de uma “espiral de caos” no Oriente Médio.
Agora, o mundo aguarda os próximos movimentos de Trump, Benjamin Netanyahu e Ali Khamenei, sem a certeza de que a paz, de fato, chegou.
Texto: Daniela Castelo Branco
Foto: Divulgação