Entorno de Moraes teme que falta de unanimidade fragilize atuação da Corte em casos sensíveis.
A decisão do ministro Luiz Fux de divergir da maioria da 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) ao votar contra as medidas cautelares impostas a Jair Bolsonaro (PL) gerou preocupação nos bastidores da Corte: especialmente entre aliados de Alexandre de Moraes, relator do inquérito que apura suposto plano de golpe de Estado.
O placar de 4 a 1, embora majoritário, quebrou uma sequência de decisões unânimes em processos ligados à atuação do ex-presidente e de seus aliados, o que vinha sendo interpretado como um sinal de coesão institucional em tempos de alta tensão política.
Fux argumentou que não vê risco iminente de fuga de Bolsonaro para os Estados Unidos e criticou o que classificou como medidas “extremas” em um momento tão próximo do julgamento da ação penal principal, previsto para setembro. O voto contrastou com a postura de Moraes, que identificou indícios de articulação internacional com o envolvimento de Eduardo Bolsonaro em ações que teriam resultado em sanções contra ministros do STF.
A posição isolada de Fux causou desconforto entre integrantes da Corte que vinham defendendo uma atuação mais alinhada diante do que consideram ataques sistemáticos às instituições. Para o entorno de Moraes, a ausência de unanimidade fragiliza a imagem de firmeza do Supremo, sobretudo em casos que envolvem figuras com grande mobilização política e social.
Além disso, Fux tem adotado uma postura mais ativa nos bastidores desse processo: acompanhou de perto depoimentos e interrogatórios e já havia sinalizado dúvidas sobre a delação de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, cuja colaboração é peça central nas investigações. Também questionou a competência do STF para julgar pessoas sem foro privilegiado envolvidas no caso.
Nos corredores do Supremo, a atuação de Fux é lida como um indicativo de possíveis novas divergências quando o mérito do caso chegar a julgamento. O temor entre os aliados de Moraes é que o voto de Fux possa abrir caminho para fissuras mais amplas, comprometendo a autoridade das decisões do STF em processos que envolvem a defesa da ordem democrática.
Texto: Daniela Castelo Branco
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